Cada estudante tem as suas estratégias de estudo, tenta arranjar a melhor forma para um estudo bem-sucedido. Mariana Pinto, estudante da Universidade do Minho (UMinho) e futura médica, para além de despender muito tempo com o estudo, como é natural, não abdica daquilo que é o seu equilíbrio, as pausas para libertar o stress e a mente, o Desporto e o Desenho, que a ajudam a focar-se e a expressar o que por vezes é difícil por palavras.
Mariana Pinto terminou em junho o seu primeiro ano do plano de estudos MinhoMD, mostrando-se muito entusiasmada para descobrir os conhecimentos que o novo ano letivo terá para oferecer. Nascida em França, foi lá que cresceu e fez o ensino secundário, decidindo ingressar no ensino superior em Portugal, onde está há um ano, mais especificamente para fazer o Mestrado Integrado em Medicina na Escola de Medicina da Universidade do Minho (EMUM), afirmando dever todo o seu conhecimento da língua portuguesa “aos meus pais, aos media e aos livros”.
A terminar o 1º ano de Medicina, quais são os teus planos para o futuro?
Cada ano do currículo da EMUM é único e oferece oportunidades únicas de descobrir as várias áreas da Medicina. Por isso, gostaria de avançar passo a passo e aprender mais sobre cada especialidade ao longo do tempo, antes de realizar uma escolha definitiva. Tenho a certeza que os próximos anos de estudo me vão esclarecer sobre este ponto.
Para além de excelente aluna, és também brilhante na arte de desenhar e pintar. Como surgiram estes talentos na tua vida?
Sendo uma pessoa interessada em descobrir novas coisas, os meus pais fizeram-me descobrir várias atividades desde muito pequena. Assim, já manipulava o lápis aos três anos, e ainda me lembro dos bonecos que fazia, cujas cabeças eram maiores do que os corpos. Desde aí, nunca parei de usar o lápis e de experimentar novas técnicas de desenho, uma vez que era uma atividade na qual conseguia evoluir e que tinha um objetivo que me conduzia a um resultado final.
Desse modo, foi o tempo e a pesquisa de novas técnicas de desenho que me levaram a desenvolver mais competências neste domínio. Nunca tive aulas de desenho até maio de 2022, data em aderi às aulas de arte propostas pela EMUM, uma vez que geralmente pesquiso conselhos e técnicas através de livros ilustrativos e das redes sociais.
Quando ainda estava na escola básica, em 2016, decidi abrir uma conta no Instagram apenas dedicada ao desenho. Foi uma ideia espontânea e não pensava ainda ter essa conta atualmente. Agora, estou muito contente por ter tomado esta iniciativa porque me permite não só notar a evolução dos meus desenhos ao longo do tempo, mas também de guardar e salvar cada um de maneira permanente num sítio comum.
O que significa para ti a arte e com que sentidos te serves dela?
Do meu ponto de vista, a arte contribui não só para o desenvolvimento pessoal de cada um, mas também para a evolução da sociedade.
Em primeiro lugar, ela permite a libertação do seu espírito e o poder de representarmos o que temos em mente. Uso o desenho para expressar os meus sentimentos e tentar representar tudo aquilo que não consigo expressar pelas palavras. Por exemplo, no contexto da guerra na Ucrânia, realizei um desenho no qual representei uma menina vestida com as cores amarela e azul do seu país, a sangrar por vários lados. Por volta dela adicionei fumo e bombas a explodir. A menina está a esticar a sua mão para o céu, onde se encontra uma pomba branca, símbolo de paz. Através deste desenho quis expressar a minha visão e o que eu sentia sobre a situação indescritível atual Ucrâniana, o que não conseguia fazer por palavras fortes o suficiente. Em uma frase, a arte plástica é a alegoria da poesia.
Quem te segue nas redes sociais fica impressionado com os teus desenhos. Atualmente muito direcionados com as matérias e conteúdos ligados à Medicina. É para ti uma outra forma de estudares? Com que objetivos o fazes?
Antes de mais, comecei a realizar desenhos relacionados com a anatomia no secundário, a partir do momento em que decidi escolher estudos de Medicina. Inicialmente, representar peças anatómicas, foi para mim, mais uma vez, mostrar o meu interesse pelo tópico e de começar a ter uma ideia mais completa de como era feito o corpo humano.
Hoje, o objetivo desses desenhos é trazer prazer ao estudo da matéria e de complementar os meus resumos de maneira visual. Não uso os meus desenhos propriamente para estudar, uma vez que representam apenas uma porção menor da matéria. Seria para mim impossível ilustrar uma aula inteira, mas permitem-me organizar as minhas ideias e planos de estudo, assim como ter uma visão mais clara de tudo que tenho para estudar. Contudo, é um método muito eficiente para estimular a memória visual.
Os teus colegas. Que dizem sobre esta forma de estudares? Pedem-te os apontamentos?
Os meus colegas perguntam-me muitas vezes como é que eu encontro tempo para criar desenhos tão completos para os meus resumos. Mais uma vez, não realizo os meus desenhos com o propósito de os usar como método de estudo, mas apenas como método de estimulação da memória e de prazer entre as épocas de estudo. Para além disso, o rigor que eu aplico à minha prática artística levou-me a acentuar o meu lado perfecionista, já bastante presente naturalmente. Assim, alguns dos meus colegas pedem-me apontamentos sabendo que eu gosto de realizar resumos completos e organizados, tendo por base as notas que eu tiro durante as aulas e as pesquisas adicionais que faço nos livros de Medicina e artigos científicos.
Sabemos das dificuldades e do volume de trabalho de um estudante em Medicina. Como arranjas tempo para fazeres os teus desenhos?
Por essa razão, realizo a maior parte dos meus desenhos durante as férias ou depois dos exames, entre dois trimestres. As únicas vezes que desenho durante o tempo de estudo é no início do trimestre ou para completar trabalhos a entregar. Assim, por um lado, a cada início de trimestre, gosto de introduzir o novo tema que vamos estudar ao desenhar uma peça anatómica relacionada, como por exemplo o desenho do baço que realizei antes de começar a estudar o sistema imunitário durante o trimestre passado. Isso permite-me entrar no tema de maneira leve e a realizar algo que eu gosto, sabendo que não vou ter tempo para desenhar nas semanas seguintes antes dos exames. Por outro lado, temos vários trabalhos a entregar durante o ano, então gosto de complementá-los com desenhos quando a forma de entrega é livre. Foi através de um destes trabalhos que um professor da EMUM me informou que desde maio 2022, existem aulas de artes, lecionadas todas as quartas à noite na Escola, por uma professora de artes. Desde então, estas aulas são para mim uma forma de desenhar mais durante o trimestre e de aplicar novas técnicas. De facto, graças a estas aulas aprendi a criar as minhas próprias cores através da pintura.
Nas tuas publicações do Instagram, podemos ver um dos teus trabalhos, dedicado ao desporto, onde identificaste o @uminhosports. Qual o papel do desporto na tua vida?
O desporto faz parte do meu quotidiano e poucos são os dias onde não dedico pelo menos meia hora à atividade física. Desde muito pequena preciso de mexer muito para desgastar as minhas energias, e tive a oportunidade de experimentar várias atividades. Comecei mais seriamente a praticar corrida e sessões de treino de fitness e musculação, de maneira autónoma, e em casa, a partir do 9° ano. Estive ainda, durante dois anos, numa equipa de Roller Derby (chamada Slide The Rhine), sendo um desporto de contacto sobre patins, que me permitiu praticar desporto em equipa. Tive de deixar a equipa devido à distância e à minha decisão de vir estudar para Portugal. Assim, ao entrar na Universidade do Minho, decidi inscrever-me no Complexo Desportivo do campus de Gualtar e usar as instalações para a atividade física. Através do desporto, procuro sentir-me melhor mentalmente e sempre resultou. Por isso, decidi incluir a atividade física de maneira sistemática no meu dia-a-dia. Esta parte do dia permite-me desligar das tarefas diárias durante algum tempo e assim aliviar todo o stress e cansaço acumulado durante o dia. Depois, consigo ser muito mais eficiente na retoma do trabalho. Gosto, geralmente, de realizar esta pausa ao final da tarde, quando estou cansada de estudar. Desse modo, no final do meu treino sinto-me bem, uma vez que a pressão reduziu e o meu cérebro teve tempo de assimilar os conhecimentos adquiridos ao longo do dia. Desta forma, estou completamente pronta para estudar mais algumas horas à noite, sem perder o foco.
Para confirmar se o desporto permitia realmente melhorar e tornar mais eficiente o meu tempo de estudo, decidi realizar uma pequena experiência durante o segundo trimestre do ano letivo passado. Nesse trimestre tive dois exames teóricos semelhantes. Desse modo, decidi, para o primeiro deles não ir ao ginásio durante a semana antes do exame, e para o segundo já pratiquei desporto de maneira diária durante a semana antes da avaliação, de seguida fui comparar qual foi o exame onde obtive a melhor nota. O resultado foi que a nota do meu segundo exame foi ligeiramente mais elevada do que a nota do primeiro, sendo que estudei uma hora a menos por dia. Isso revela a eficácia da atividade física no repouso do cérebro. Este tem os seus limites, e, não vale a pena ultrapassar o limiar da exaustão, onde acima deste o trabalho não rende mais. Assim, descobri este ano o número máximo de horas que o meu cérebro consegue ficar focado, e dedico o resto do tempo a realizar um pouco de desporto e cumprir as outras tarefas quotidianas.
Para concluir, a atividade física permite-me reforçar mentalmente e tornar-me mais eficiente durante o meu tempo de estudo. Sinto-me feliz depois de cada treino.
És utilizadora do ginásio da UMinho. Porquê fazer desporto?
Para além das razões pessoais pelas quais faço desporto ditadas previamente, a atividade física tem numerosas vantagens.
Em primeiro lugar, o desporto permite limitar o mal-estar que qualquer pessoa pode sentir em qualquer dia. De facto, a atividade física leva à liberação de neurotransmissores, tais como as endorfinas, moléculas liberadas pelos nossos neurônios, que tem efeitos antidepressivos.
Depois, o desporto também permite a uma pessoa ultrapassar os seus limites e mostrar uma evolução constante ao longo do tempo. Nesse domínio, uma pessoa pode sempre progredir e é fácil fixar-se pequenos objetivos a realizar diariamente que fazem com que se sinta satisfeita por ter cumprido alguma coisa ao longo do dia.
O desporto é também uma oportunidade de conhecer novas pessoas que partilham os mesmos hobbies que nós. É uma razão adicional pelas quais gosto de ir ao ginásio, pelo facto que me permite estar com outras pessoas num ambiente relaxado, depois de ter passado o dia a estudar no meu escritório.
Enfim, o desporto é uma real terapia a aplicar no contexto de várias patologias e doenças que tocam vários sistemas do corpo humano. De facto, ajuda no combate contra os diabetes de tipo 2, a obesidade, a depressão, o stress crónico, os distúrbios do comportamento alimentar, e muito mais.
O desporto promove a saúde, o bem-estar físico e mental, e a felicidade.
O que tens a dizer a quem diz que não tem tempo para fazer desporto?
Na vida, tudo é uma questão de organização. Cada dia dá-nos a possibilidade de cumprir todos os objetivos estabelecidos, uma vez que respeitemos o tempo que decidimos dedicar a cada tarefa quotidiana.
Para ser eficiente e útil, um treino não precisa demorar horas e ser praticado de maneira diária. Uma pessoa pode começar por pequenos treinos de 15 minutos, apenas alguns dias por semana, e já vai notar uma grande diferença no seu estado emocional. Estes 15 minutos bastam para aumentar exponencialmente a motivação de uma pessoa que está a passar um dia complicado. Para além disso, a atividade física tem que ser vista como um prazer e não uma tarefa. Por isso, sabendo a grande possibilidade de desportos que existe, é importante que uma pessoa encontre qual é o que corresponde melhor às suas expectativas e que contribui para o seu bem-estar.
Vais fazer a imagem promotora do @uminhosports para o mês de setembro? Como viste essa proposta?
Como já referi previamente, uso o desenho para expressar os meus pensamentos e divulgar aquilo que eu gosto. Assim, realizei em março 2022, um desenho representando uma pessoa treinando, a partir duma fotografia que tinha tirado nas instalações do Complexo Desportivo da UMinho. O perfil Instagram @uminhosports viu o meu desenho e fui contactada no sentido de realizar um desenho enquanto imagem promotora do @uminhosports para o início do ano letivo 2022/2023. Não estava à espera desta proposta e fiquei muito entusiasmada. Para mim, é um prazer imenso se a minha paixão pelo desenho pode trazer algo a mais e contribuir para a dinâmica da nossa Universidade. Espero que no futuro esta perspetiva possa evoluir e venha a receber mais propostas.
Que mensagem gostarias de deixar aos estudantes da UMinho?
Ser estudante não é fácil. Ao entrar na Universidade temos que aprender a gerir bastantes elementos diferentes, sendo que primeiramente devem estar os estudos. Acho que dois pontos são primordiais para melhorar o nosso dia-a-dia. Em primeiro, é importante integrar na nossa rotina uma atividade que nos dá prazer realizar e que embeleza o nosso quotidiano. Para mim, foram o desenho e o desporto, mas pode ser qualquer ação que nos alivia, tal como passear, ver uma série ou simplesmente ouvir música. Assim, ao acordar de manhã, sabemos que mesmo que o dia vá ser longo e difícil, vamos passar pelo menos um momento de relaxamento e de felicidade. Em segundo, é necessário aprender a gerir o tempo e a ser uma pessoa organizada, uma vez que esta qualidade nos leva a poder realizar muitas mais coisas num só dia. Quanto melhor conseguirmos gerir o nosso tempo, mais tempo vamos conseguir dedicar aos elementos que gostamos.
Ana Marques
Fotos: Nuno Gonçalves